O Blog:

Não importa se fútil ou cult, aqui tem o que agrada, desperta curiosidade, riso e coisas assim. Sem rótulo e sem pudor, seja fult com a gente!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Precisamos falar sobre o Kevin




"É só isso que eu sei. Que, no dia 11 de abril de 1983, nasceu-me um filho, e não senti nada. Mais uma vez, a verdade é sempre maior do que compreendemos. Quando aquele bebê se contorceu em meu seio, do qual se afastou com tamanho desagrado, eu retribuí a rejeição — talvez ele fosse quinze vezes menor do que eu, mas, naquele momento, isso me pareceu justo. Desde então, lutamos um com o outro, com uma ferocidade tão implacável que chego quase a admirá-la. Mas deve ser possível granjear devoção quando se testa um antagonismo até o último limite, fazer as pessoas se aproximarem mais pelo próprio ato de empurrá-las para longe. Porque, depois de quase dezoito anos, faltando apenas três dias, posso finalmente anunciar que estou exausta demais e confusa demais e sozinha demais para continuar brigando, e, nem que seja por desespero, ou até por preguiça, eu amo meu filho. Ele tem mais cinco anos sombrios para cumprir numa penitenciária de adultos, e não posso botar minha mão no fogo pelo que sairá de lá no final. Mas, enquanto isso, tenho um segundo quarto em meu apartamento funcional. A colcha é lisa. Há um exemplar de Robin Hood na estante. E os lençóis estão limpos."

Página 372 - Precisamos falar sobre o Kevin

Inicialmente vi o filme, ótima adaptação. Toda a trama sob a ótica da mãe do assassino, desde seu nascimento até o dia do massacre. Tilda Swinton com sua feição ossuda, metálica, magra caí como uma luva para o papel. O filme inteiro se molda nessa relação mãe/filho e como isso talvez reflita em seus atos sem resposta lógica. As cenas não estão em forma cronológica usual dando dinamismo aos seus 110 minutos de filme. O filme incomoda, a raiva incontida sem razão usual, as tentativas de amor frustrado. Único ponto que após ler o livro percebi que fez muita falta no filme foi a conversa final onde ele devolve o olho da irmã e mostra-se cansado e verdadeiramente com medo de ir pra prisão após a maioridade.

Demorei mais tempo do que o realmente necessário pra ler o livro por completo. Ele é verdadeiramente incômodo, faz nascer tantas perguntas que passam pra vida de quem os lê: meus atos podem ser resposta dos sentimentos maternais? Raiva incontida, receios, questões mal resolvidas. Um tanto de sentimentos, de perguntas, de medos. Observar os olhos da mãe de um assassino de dezesseis anos e provar da crueza do seus dias que até então eram confortáveis.

Um excelente filme, livro mordaz e necessário. Recomendo.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Madeinusa

Madeinusa  (Peru/Espanha,  2006)  é  o  primeiro  longa-metragem  dirigido  pela peruana Claudia Llosa, que em 2009 ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim pelo seu  segundo  filme,  La  Teta  Asustada.  Um  ponto  em  comum  nos  dois  filmes  é  a presença  da  atriz  Magaly  Soler  que  no  primeiro  filme  interpreta  Madeinusa de maneira admirável, com muita expressividade, conferindo um realismo à personagem que nos leva a esquecer que estamos vendo ali uma atriz com seu papel e não uma personagem autêntico e real.

O filme narra alguns dias de um  imaginário vilarejo peruano,  denominado  Manayaycuna,  e  localizado  entre  as  remotas  montanhas  da  Cordilheira Branca,  onde  ocorreria  o  Tempo  Santo,  período  que  vai  da  Sexta-Feira  Santa  ao Domingo  de  Páscoa.  Neste  hipotético  povoado,  vivem  Madeinusa,  sua  irmã  Chale (Yiliana  Chong)  e  seu  pai,  então  prefeito  da  cidade,  Cayo  Machuca  (Juan  Ubaldo Huamán).  A  chegada  de  Salvador  (Carlos  J.  de  la  Torre),  que  percorre  um  longo caminho de Lima até  localidade, é a chance que Madeinusa encontra para partir para a capital, seguindo os passos da mãe que abandonara as filhas com o pai.

O filme pontua a diferença entre o arcaico e o urbano, pagão e religioso, mostrando-nos o cotidiano exótico do vilarejo. É um filme caracterizado pelo etnocentrismo, assim como o ótimo filme brasileiro A Festa da Menina Morta (2008). Os costumes típicos e exóticos se revelam durante as festividades do Tempo Santo, onde, segundo as tradições locais, tudo está permitido, uma vez que Jesus está morto e não pode ver os pecados do mundo. A trama se desenrola sobre esse pretexto, encantando na fotografia e surpreendendo no roteiro. Este é um filme cheio de silêncios, para ver e digerir por alguns dias. O final é um tanto atordoante, surpreendente e faz do filme imperdível! Disponível AQUI ou AQUI.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ensaio De Cores

Depois de um longo e tenebroso inverno, Ana Carolina acerta a mão no seu novo trabalho, Ensaio de Cores. Eu nem estava sabendo desse CD, confesso ter me desligado do trabalho da Ana desde a decepção com seus últimos álbuns. Não sei se o Estampado era muito bom ou se o Dois Quartos e o N9ve que eram ruinzinhos demais, só sei que Ensaio de Cores está gostoso, viril e delicado, tem o vigor de Ana Carolina como na época dos cabelos vermelhos.

Com uma banda formada só por mulheres, Ensaio de Cores é a musicalização das telas que Ana pinta despretensiosamente há alguns anos. O projeto começou como um show apresentado no Rio e em São Paulo, depois veio uma exposição com toda renda revertida a uma instituição beneficente e agora este CD ao vivo que felizmente nos traz Ana Carolina de volta. 

O álbum é composto por 16 faixas, sendo 5 delas inéditas, que vão de baladas pop, balada romântica que flerta com o sertanejo universitário até um pancadão carioca dos bons. Dentre as inéditas, está Problemas, que faz parte da trilha sonora de Fina Estampa e é executada com bastante frequência. Dentre as regravações, temos Caetano, Lenine, Djavan, Chico César e Leandro & Leonardo é um álbum recheado de influências, mas simples, longe das grandes produções dos últimos discos. Destaque para a percussão da Lan Lan, que é foda e mostra um encaixe muito bom com Ana Carolina e suas músicas. É pra ouvir com o volume alto.

Ensaio de Cores | Ao Vivo (2011):
01 Rai Das Cores
02 As Telas E Elas
03 Alguém Me Disse
04 Você Não Sabe
05 Carvão
06 Todas Elas Juntas Num Só Ser
07 Azul
08 O Violão
09 Feriado / O Amor É Um Rock / Entre
10 Tapas E Beijos
11 Pra Tomar três
12 Simplesmente Aconteceu
13 Claridade / Só Fala Em Mim / Pra Rua
14 Força Estranha
15 Stereo
16 Problemas

domingo, 1 de janeiro de 2012

Alcione e Bethânia

Alcione está comemorando os seus 40 anos de carreira e como forma de comemoração, recentemente lançou um DVD com vários convidados. Alguns são companheiros da antiga cena noturna carioca, como Emílio Santiago, Áurea Martins e Djavan, outros são grandes amigos, como Maria Bethânia. Bethânia foi escolhida para cantar Sem Mais Adeus, composição de Francis Hime e Vinicius. Duas gigantes da música brasileira num registro imperdível: