Há pouco mais de dez anos atrás surgia no cenário pop nacional uma contralto que prometia estourar nas rádios com suas letras românticas de grande apelo popular e a voz potente que entoava as canções com precisão e vigor. Não demorou muito para que o grande público descobrisse Ana Carolina, todos entoavam os versos de Garganta, incluída na trilha sonora da novela global Andando nas Nuvens. Seu primeiro CD (Ana Carolina – 1999) ainda incluía regravações primorosas como a de Beatriz e de Tudo Bem.
Apesar do sucesso e dos 100 mil exemplares do primeiro álbum, Ana Carolina ainda era a promessa da MPB contemporânea, nada mais que isso. Em 2001, Ana Rita Joana Iracema e Carolina, seu segundo álbum, veio para confirma que Ana era realmente uma grande cantora, e não somente isso, também era uma excelente compositora (Maria Bethânia, Preta Gil, Moska são artistas que já gravaram suas canções), arranjadora e instrumentista.
O álbum vendeu 250 mil cópias, mais do que o dobro do primeiro, e shows lotados por todo o Brasil, meninas histéricas na frente do palco quase gozando quando Ana Carolina pegava o pandeiro pra tocar (e toca muito bem, só pra constar). Quem De Nós Dois foi a canção chiclete do álbum, tocou em tudo qualquer lugar, se bobear, deve ter tocado até nas missas de domingo.
Em 2003, com sucesso consolidado e uma legião de fãs, Ana Carolina lança o primoroso álbum Estampado, que na verdade foi um projeto que incluía duas outras mídias: um DVD com um documentário mostrando a confecção do álbum, processo de composição e um pouco da intimidade da artista e um outro DVD com o registro do show, nomeado de Um Instante Que Não Pára (lançado já no ano de 2004).
Estampado é um álbum singular, reúne canções grandiosas e arranjos sensacionais. Há canções inéditas que já nasceram como grandes clássicos, como Vestido Estampado. Arranjos de arrepiar como o de Dois Bicudos e sensualidade de sobra nos poemas lidos, no modo como pega o violão, no cabelo vermelho, no olhar, no sorriso malicioso. Estampado foi o princípio do auge de Ana Carolina.
Em 2005, Estampado ainda tinha músicas tocando nos aparelhos de MP3 dos fãs e, em parceria com Seu Jorge, lançaram o CD e DVD Ana & Jorge. Primorosa parceria que estourou em todo país e vendeu 600 mil cópias em tempos de pirataria difundida por todas as esquinas. Ana Carolina mostra no CD sua versatilidade musical, entoando clássicos da MPB, sambas e baladas românticas, como É Isso Aí, que tocou exaustivamente em todas as rádios e programas de TV do país.
Todo mundo falava em Ana Carolina, as mentes mais tradicionalistas descobriram que ela gostava de mulheres, capas de revistas sensacionalizavam o fato, entrevistas na TV... o assunto era Ana Carolina, o auge. Certa vez, num documentário (raramente lembro títulos de documentários) sobre o Vale do Café paulista e fluminense, o narrador disse a seguinte frase que nunca esqueci: "todo auge precede o declínio". E assim aconteceu.
Em 2006 Ana Carolina, agora loira, lançou o CD duplo Dois Quartos, dividindo quase que de maneira didática as canções pop das que ela julgava mais intimistas. De um modo geral, nesse álbum Ana Carolina saiu musicalmente do armário. É um CD sem eufemismos, Ana canta abertamente “eu gosto de homens e de mulheres, e você o que prefere?”, em outra canção ela encarna o ente masculino com versos mais diretos do que os encontrados em letras de funk carioca: “olhou bem nos meus olhos, chupou meu pau”; e o CD ainda conta com a tão falada Eu Comi A Madona (assim mesmo, só com um N, pra evitar possíveis processos). Não é um CD só de tom sexual, ainda tem o hit Rosas, com refrão chiclete que grudou na cabeça de todo mundo, e a lindíssima Carvão. É um CD bom? Sim. Tão bom quanto Estampado? De modo algum.
O sucesso é impiedoso, quanto maior, mais pressão. Todo mundo tem o direito de errar na mão, de se exceder em uma coisa ou outra, e os erros servem de aprendizado para o próximo álbum, certo? É, assim que deveria ser, mas não aconteceu isso no caso de Ana Carolina. Recentemente lançado, o álbum N9ve é chato, cansativo e em nada lembra a Ana Carolina do início da década.
Dessa vez, para conseguir emplacar nas rádios uma canção, a cantora recorreu a fórmula fácil e já usada por Vanessa da Mata e Wanessa Camargo, escrever metade em inglês e metade em português, com algum cantor badaladinho “do estrangeiro”. Unindo a letra bilíngüe ao refrão chiclete, especialidade de Ana Carolina, nasceu Entreolhares, com rimas duvidosas e letra repetitiva. Ana Carolina definitivamente não está no seu melhor momento, o que acho uma pena. Saudade daquele cabelo vermelho e da cantora que sabia ser popular e ter qualidade ao mesmo tempo.
2 comentários:
Eu realmente gosto do Dois quartos. E é fato que o 9 decepcionou e muito. Relembrar é o que me sobra.
Ótima "resenha"
Tbm tenho saudade e histórias divertidas envolvendo os cabelos vermelhos da Ana.
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