Som diferente, interessante e inteligente que brota do Piauí, uma região onde as a grande massa de ouvintes não espera que vá sair um grupo desses. Talvez isso possa parecer preconceito, ou até mesmo ser, mas realmente as pessoas em geral não tem muitas informações sobre as novidades musicais de uma região tão esquecida do nosso país. Como vocês lidam com esse olhar? Consideram o som de vocês regional?
Quaresma – Realmente, ainda não temos uma referência musical no âmbito nacional que possa gerar essa expectativa. Talvez a memória nacional recupere figuras piauienses mais ligadas à literatura como Torquato Neto, que também atuava na música e no cinema, Assis Brasil, e Da Costa e Silva. Mas na música mesmo não há quem relacione nosso som, ou o que tem sido feito por aqui, a qualquer outro trabalho piauiense reconhecido Brasil a fora. De alguma maneira, nos anima chegar com alguma novidade, mesmo que tardiamente, embora eu não creia que seja tarde, já que penso nossa música como fruto dos dias de hoje. É resultado de nossas experiências com o que tem sido produzido no Brasil, principalmente, dos anos 80 pra cá, e também de algo de tempos mais remotos. Quanto ao termo “regional”, às vezes soa um tanto pejorativo quando generaliza demais. O que há de regionalismo na música que fazemos são as expressões que utilizamos nos textos, e remetem a situações do dia-a-dia. É regional porque nasce aqui, e de alguma maneira representa um pouco a produção atual, mas não é regional no sentido direto de justaposição temática ou alegórica de elementos que compõem a imagem do nordestino para o restante do país.
Thiago E – Ah, Diana, em nome de todos da Validuaté, primeiro digo obrigados... Pois é. Realmente, muitas e várias e incontáveis pessoas preconceituosas pelo Brasil não esperam grandes coisas do Piauí. Isso é tristíssimo. Até mesmo muitos dos habitantes deste estado duvidam do próprio talento. Acontece bastante de aparecer um trabalho artístico bem feito, bem produzido, esmerado e alguém dizer “olha que massa! nem parece que é daqui”. Repito: isso é soturnamente tristíssimo. E pouca gente percebe que essa atitude é um problema cultural. Quando digo “é um problema cultural” não estou falando de “falta de cultura” – absolutamente ninguém pode dizer isso do Piauí: somos muito ricos culturalmente. Quando digo “é um problema cultural”, falo sobre a falta de hábito de se interessar na produção cultural local. É um problema na educação e vem de longa e antiga data. Quem trabalha com música autoral em Teresina tem enormes dificuldades financeiras... E pouco, ou quase nada, consegue divulgar seu trabalho. E assim, a gente fecha um trágico ciclo: 1º) grande parte do público, por questões históricas e culturais, pouco se interessa pela música local; 2º) A maioria das casas de show, “prevendo” que não vão ter platéia suficiente para o seu almejado retorno financeiro, não contrata bandas locais; 3º) E o público, por ter pouquíssimo, ou nenhum, contato com o trabalho autoral de Teresina, não vai gostar do que não conhece. Mudar isso vai ser demorado e complicado. Eu reafirmo a expressão “música autoral” porque aqui, devido a esses problemas, as bandas cover’s são super valorizadas, logo, fazer música autoral é, antes de tudo, uma militância, uma postura política! Sem falar das rádios: contam-se nos dedos de uma mão as que nos apóiam. A Rádio pública Cultura FM 107.9 faz um trabalho importantíssimo na divulgação artística daqui. O pessoal da Cultura FM é bom e merece muitos elogios e todo o reconhecimento e respeito. E quanto a sermos “regionais” ou não... é bastante simples. O rock é a coluna das nossas músicas. Pelo menos por enquanto, sei lá, tudo pode mudar. Misturamos com samba, reggae, um pouquinho de baião... mas o eixo, o cerne, o cimento é o rock. O problema é que o termo “regional” ficou preconceituosamente ligado apenas ao nordeste. Se um grupo põe qualquer elemento de baião ou “forró” numa música, ele imediatamente é rotulado “regional”. Mas nunca vi um paulista misturar rock e xaxado e ser chamado de “regional”. Então é aquela história: todo rótulo é opressivo. Às vezes também ligam o termo “regional” a uma certa tentativa de “pureza” na música, de tentar deixar “intacta” alguma manifestação artística... A Validuaté nunca se preocupou com isso. E nem acho que isso exista. Na “mundo multidão mil”, primeira faixa do nosso disco “Pelos pátios partidos em festa”, é dito “os movimentos vários das culturas / porque deus é movimento e mistura”. Ninguém da Validuaté se considera “regional” nessa acepção. O Vazin, nosso guitarrista e geógrafo, diz que “regional” é quem vem de alguma região. Nesse sentido, somos regionais. Somos de um vale do até...
A Internet tem aberto muitas portas para a apresentação de bandas novas (ou até mesmo as que estão na estrada há algum tempo). Qual a pretensão do grupo quanto ao público? Grande mídia, meios de comunicação em massa ou grupos mais seletos?
Quaresma – Nossa intenção é atingir um público cada vez maior, fazer nossa música ser conhecida, e dar oportunidade às pessoas de dizer se gostam ou não do que fazemos. O bom de sermos independentes é a liberdade que temos de criar um trabalho do nosso jeito, sem pré-moldes impostos por quem quer que seja. Se houver oportunidade para mostrar esse trabalho para a grande mídia, chegaremos puros como nascemos. Há planos de organizarmos pequenas turnês para poder tocar para um público que nos conhece apenas pela Internet.
Thiago E – Nós tentamos explorar bem a Internet. Podemos ser encontrados no Myspace, no palco mp3, no twitter, na comunidade do orkut, no nosso blog, no nosso site, no youtube... e, ainda bem, em vários espaços de outras pessoas que gostam e acompanham a produção da banda. Nós estamos nos organizando pra fazer mais viagens e tentar divulgar a Validuaté num âmbito nacional. Onde pudermos nos apresentar de uma maneira interessante, estaremos lá. Não gostamos dessa coisa de “grupos seletos”. Pra gente isso não existe. Isso seria o próprio artista se mistificar, se achar superior a alguém. Isso é besteira. John Well, Júnior, Wagner, Quaresma, Vazin fazem a Validuaté ter uma força agregadora que é fundamental pra todos nós. Perder isso seria perder tudo.
Músicas como Ela é, Plaina Maravalha, Eu só quero acabar com você, Essa moça, Eu preciso é de você (regravação da Jovem Guarda) são letras que visões diferentes sobre as mulheres. As primeiras mostram o lado "devorador de corações" que as mulheres podem ter, as últimas demonstram como os homens podem se perder e depender delas. Como vocês realmente lidam com esse universo e como instiga suas criações musicais?
Thiago E – A gente lida tranqüilamente... A banda não privilegia esse tema, isto é: não temos mais cuidado ou menos atenção quando estamos fazendo uma canção sobre “uma mulher” do que quando estamos compondo uma canção sobre outro assunto – “o céu”, “um peixe”, “a orelha da Maria Bethânia”, “o amor”, “o mar”... Nos empolgamos com o arranjo bem feito. Não temos essa de “um tema especial”. Um dos “baratos” da arte é tentarmos tornar qualquer assunto especial. Seja na música, na pintura, na poesia, na prosa... a arte tá aí pra isso: pra instigar um desafio na cabeça de quem vê e de quem cria. Alguém pode querer fazer uma canção sobre o amor e cantar “o amor que sinto é uma lâmpada fluorescente...”, aí o compositor tem de se virar pra dizer por que o amor é uma lâmpada fluorescente! (risos). O Torquato Neto diz “é inventar dificuldades pelo menos maiores”. (risos). Obviamente a figura feminina nos encanta. É só observar as duas capas dos nossos dois discos. O “pelos pátios partidos em festa” e o “alegria girar” trazem uma mulher em cada imagem. Porém, quando a mulher é uma personagem na música, trato com o mesmo alumbramento de quem percebe o mar pela primeira vez e diz “o mar rumina a terra o tempo todo”. Pra mim não é fácil, não é comum compor canção tratando do envolvimento amoroso, de romance... Acabo tratando mais de “coisas” ou histórias mais irônicas. É algo normal no meu comportamento. Já o Quaresma faz músicas sobre relacionamentos com uma naturalidade e um aprumo que invejo. O Quaresma é bom nisso. Ainda bem que ele tá por aqui.
Quaresma – Criar canções para mim é um exercício de representação da realidade, mesmo que seja uma realidade reinventada, ou pura ficção. A música pop, de modo geral, é construída em torno de algumas temáticas recorrentes: paixão/amor, abandono, solidão, admiração, desejo, etc. A maneira como se utiliza uma temática ou outra pode gerar as mais diversas impressões no público, das quais a surpresa é sempre a melhor. As nossas “canções de amor” não dizem “eu te amo”. É um exercício muito prazeroso, principalmente quando temos uma aceitação tão boa do público.
O cenário independente vem crescendo de forma meteórica e diversificada. Como lidam com esse mercado? Quais nomes podem nos indicar? Com quais gostaria de tocar, compor? E até mesmo os mais famosos, quais lhe enchem os olhos?
Quaresma – É um mercado que parece muito convidativo e desafiador. Parece haver lugar para todos quando vemos as ferramentas à nossa disposição. Ao mesmo tempo parece que fica muito a cargo de cada um. Algo do tipo “às próprias custas s/a”, e atuar em diferentes setores da cadeia produtiva da música se torna algo fundamental para compreender o funcionamento do mercado de antes, e do que tempos agora. A Internet é nosso grande aliado na divulgação do trabalho da banda bem como na formação de nosso público Brasil afora. Um dos melhores exemplos de banda que tira todo o proveito da Internet para divulgação e interação com o público é a brasiliense Móveis Coloniais de Acaju. Considero os meninos do Móveis um modelo de organização. Creio que cada músico da banda até imagine grandes artistas participando de alguma gravação ou show nosso. Acho que isso tem mais a ver com a essência de cada música. Por afinidade e admiração, seria uma honra poder tocar/compor algo com Céu, Nação Zumbi, Arnaldo Antunes, Tom Zé, André Abujamra, Moska, Adriana Calcanhoto, Lenine, Vitor Ramil etc.
Thiago E – Olha, somos uma banda como tantas milhares de outras bandas pelo Brasil: adoramos o que fazemos e buscamos nos manter apresentando nosso trabalho. Esse é o objetivo de milhares de bandas. O mercado é inflacionado e não há espaço pra todo mundo. A verdade é essa. Não cultivamos ilusões. Eu até brinco parafraseando uma frase do Stanislaw Ponte Preta: “Validuaté: despontando para o anonimato” (risos). Não sabemos se conseguiremos tocar, gravar mais discos e nos manter com a música... Ou se seremos mais um grupo sufocado pela dificuldade e pela falta de recursos. Tudo é incerto. O que sabemos é que viver de música autoral por aqui é fazer um milagre. Como não temos o dom de fazer milagre, resta-nos tentar também outras paisagens. É como diz outra do Stanislaw “quem quer ser artista tem de carregar o circo nas costas”. Várias bandas e músicos daqui têm um trabalho autoral interessante: Clínica Tobias Blues, Obtus, Roque Moreira, Fragmentos de Metrópole, Eucapiau, Teófilo, Eita Piula, Batuque Elétrico, Captamata, Maykel Francis, Joniel Veras... entre outros grupos e músicos. As produções estão acontecendo... Como todo mundo, a gente da Validuaté admira muitos artistas. Também tocamos algumas músicas de quem admiramos: Tom Zé, André Abujamra, Arnaldo Antunes, Márcio Greyck... Se, no futuro, formos parceiros de um deles já vai tá bom demais! Mas já conseguimos alguns encontros maravilhosos. No disco “Alegria Girar”, contamos com a participação do poeta Ferreira Gullar, do cantor, compositor e ator Lirinha, do ator e dublador Isaac Bardavid e do ator, cantor e compositor Zéu Britto. Pra gente foi-é-e-será uma felicidade!
Dois CD's, alguns clipes soltos na Internet e um bom número de admiradores fiéis, planos pra um próximo projeto? Tocar nas grandes capitais?
Quaresma - Está em nossos planos, antes de gravarmos um disco que encerra a trilogia doa álbuns em estúdio, produzir um DVD com repertório dos dois primeiros trabalhos e mais algumas músicas inéditas. Além de participações especiais. Paralelo a isso, vamos organizar pequenas temporadas por outras capitais e outras regiões do país. Alimentar nosso público que nos acompanha tão somente pela Internet. Tudo com calma e planejamento.
Vemos em comunidades do orkut e do Last.FM que grande parte do público da banda é feminino e se derretem todas pelas músicas e por vocês. Pois então, há assédio nos shows? Como os compromissados lidam?
Thiago E – Isso é tranqüilo. A maioria da banda é compromissada e há respeito. Obviamente existe aquela coisa do fetiche do palco e tal, mas não dou importância pra isso. Aliás, qualquer pessoa sã que nos observe concluirá que não temos atrativos físicos (risos). Vez por outra ouvimos comentários “rapaz, a Validuaté... Ô banda pra ter cabôcos fêi, menino! Os cara até tocam bem... mas, ali, num escapa um!!” (risos!) Pois é. Eu só defendo o Wagner. Só o Wagner é bonito! É nosso Ébano, nosso precioso, nosso Orfeu Negro! (risos!)
Quaresma – (risos, risos) O assédio acontece, mas não é nada escandaloso que nos force a correr pelos corredores ou chegar por alguma porta secreta. Todo o encantamento acontece enquanto estamos sobre o palco. Quando a gente desce, sempre tem alguém que aborda para parabenizar, perguntar por que não tocamos música tal e tal, ou mesmo só para dar um abraço. As respectivas namoradas de cada músico da banda são bem pacientes com esse assédio. Mesmo porque depois do show a gente parece que volta à forma de abóbora (risos).
Para os mais simplistas e/ou para as massas, ao ouvir o som de vocês podem, equivocadamente, achar o som de vocês semelhante demais com outras bandas fora do eixo RJ - MG - SP, como Cordel do Fogo Encantado ou até mesmo Nação Zumbi e Mundo Livre S.A. Vocês lidam bem com essas comparações ou procuram se afastar cada vez mais delas?
Thiago E – São bandas de um som maravilhoso e as admiro. Realmente, já nos compararam com o Cordel e com o Mundo Livre. Mas, sinceramente, não vejo grandes semelhanças... quase nenhuma. A Validuaté mistura um pouco de poesia às suas práticas e tal... o que poderia nos aproximar do Cordel... Mas o nosso som é muito diferente, trabalhamos com esses elementos de forma diversa. O formato de banda e os timbres não têm nada a ver! Poderiam nos aproximar do Mundo Livre pelo uso do cavaquinho no rock e tal... mas é a mesma razão: misturamos esses elementos de maneira diversificada. Nossa escrita é outra, nossas melodias são outras, nossa pegada é outra. Se nos comparássemos ao Nação Zumbi, eu também só poderia receber como um elogio – eles são fantásticos – mas iria aconselhar essa pessoa a fazer uma avaliação psíquica o quanto antes. Gostaria que as pessoas olhassem pra Validuaté como Validuaté mesmo. Por mais que te comparem com nomes importantes, todo mundo quer ser o que é mesmo.
Comparando Pelos Pátios Partidos em Festa e Alegria Girar, notamos que o segundo é um álbum mais maduro, letras e som mais elaborado, são músicas mais fáceis de ficar na cabeça (até minha mãe anda cantando Eu Só Quero Acabar Com Você, haha), um outro padrão. Pois então, quais experiências a banda acumulou entre um trabalho e outro e o que poderia explicar a mudança?
Thiago E – O “Pelos pátios partidos em festa” é primeiro cd. Tem os atropelos e as delícias de toda primeira vez. Quando o gravamos passamos por uma série de problemas. Alguns por inexperiência e outros de ordem do acaso da vida mesmo, dos rumos que tudo toma. Houve um pouco de pressa, por falta de informação também tivemos pouco cuidado com a captação dos sons na gravação, a escolha do estúdio, os horários no estúdio eram ruins, etc, etc, etc. Uma série de fatores. Hoje, nos incomodamos com a qualidade técnica da gravação... e talvez o público, sem perceber, se incomode também com o áudio... Mas nós adoramos as canções do “Pelos pátios partidos em festa” e temos planos para melhorá-las: quem viver verá (risos). Já o “Alegria girar” foi feito com um cuidado bem maior. Não queríamos repetir as inexperiências do primeiro. Pesquisamos, nos empenhamos e também tivemos a sorte de trabalhar com engenheiro de áudio Mike Soares. Com os toques dele mudamos bastante. O grupo tava coeso. Mas, sobre esse percurso todo, é bom ser observado uma coisa... Não podíamos ficar esperaaando uma situação ideal aparecer. Queríamos fazer, mesmo aos trancos e solavancos... falta de aparato técnico não significará inércia criativa...
Conte-nos um pouco sobre o início da banda e o que cada um trouxe como bagagem para formar esse som tão diverso.
Thiago E – A Validuaté surgiu em 2004 e permanece, praticamente, com a mesma formação: John Well na bateria recarregável de longa duração, Vazin e Júnior nas guitarras, eu toco pandeiro e cavaquinho, Wagner Costa no contrabaixo e Quaresma na voz e instrumentos adicionais. Como todo grupo, temos semelhanças e diferenças e sempre procuramos respeitar os desejos uns dos outros. O John Well tocava música gospel na igreja e dá aulas de bateria; o Vazin participava da cena metal, cantava em coral também e dá aulas de geografia; eu tocava sambas e pagodes naquela onda dos anos 90, depois me interessei por rock, poesia e dou aulas de literatura; o Wagner tocava música instrumental, em banda de pop rock, canta num grupo vocal e faz mestrado em literatura; o Júnior tocava música pop e é gerente do bar Recanto do Caranguejo; o Quaresma sempre cantou, é professor de inglês e português e também é publicitário. Então temos uma diversidade boa. Cada um acrescenta unicamente e funciona. O grupo é bom. O que nos une é nossa tolerância e nosso extraordinário senso de humor. (risos!)
Quaresma – O bacana do grupo é a pré-disposição pela busca do novo, de experimentar os detalhes de algo desconhecido. Antes da Validuaté eu tocava MPB com o Júnior. Aquele repertório de churrascaria mesmo. Mas desde sempre eu quis construir algo novo. Até chegamos a participar de festivais com as músicas que já nasciam naquela época. Isso rendia uma ou duas apresentações por ano com duas ou três músicas próprias. O grupo se chamava Papel di Parede. O difícil era inserir esse novo num contexto em que a música serve para ajudar o pedaço de carne descer com um gole de cerveja. Foi aí que desistimos de tocar música com cheiro de picanha e decidimos criar uma nova história. E nasceu a Validuaté.
Mesmo em letras sérias, é possível notar doses de humor, fazendo com que estas flertem com músicas ditas "bregas", brincando com uma linha bem sutil entre o romântico e o brega. Há receios quanto a isso ou o som que vocês fazem é puramente passional, sem preocupações de estilo?
Thiago E – É como eu disse anteriormente: não nos preocupa evitar nem permanecer. Exploramos o som dito “brega” ou “romântico”. E quando criamos algo nesse gênero, sabemos o que estamos fazendo e quem nos escuta também sabe. É como se fosse um ato, ou uma parte de um espetáculo que tem partes diferentes. Isto é: não ficamos no “brega” o tempo inteiro, todos sabemos que logo acontecerá algo novo. Não há receio quanto a essa classificação. De certa forma, é um momento em que há um sarcasmo de nossa parte com essa enxurrada de músicas, no rádio ou na TV, falando desse amor meloso.
Quaresma – Colocamos muito de paixão também no que fazemos. O traço brega de algumas de nossas músicas passa também pela via do humor. Um dor sofrida que precede o riso de quem vê graça nas relações amorosas.
Vemos ultimamente que as bandas têm uma vida efêmera. GRAM, Los Hermanos, Cordel do Fogo Encantado e tantas outras declararam o fim ou então uma "pausa por tempo indeterminado". Podemos esperar vida longa a Validuaté? Quais são os planos e projetos da banda atualmente?
Thiago E – Olha, eu não sei se essas bandas tiveram essa “vida efêmera”. Não conheço o GRAM. Mas o Cordel do Fogo Encantado e o Los Hermanos duraram o tempo que quiseram durar. Foi algo acordado. Nenhuma tragédia aconteceu pra impedi-los de produzir e tal. Eles podem, inclusive, voltar. Mas, para além das músicas, existe a convivência. E essa, às vezes, é melindrosa: juntar pra dar certo os desejos e os comportamentos de várias pessoas é cheio de pregas e complexo e é preciso sabe-se lá o quê... Quando a gente gosta de um grupo que se acaba, ficamos um pouco pra baixo, etc. Porém é um sentimento pessoal e cabe a cada um resolvê-lo da sua forma. E as pessoas dizem “mas, por quê?” etc. Contudo, quem sabe da pedra é quem calça o sapato. Nesse contexto musical, as coisas duram o que tem de durar. Tem de ser respeitado. Obviamente a Validuaté deseja essa vida longa. Estamos ávidos pra nascer e começar em outros lugares e renascer e recomeçar num devir incessante. Tomara que dê certo. A cada tempo que passa aprumamos artes novas e queremos vivê-las com outras pessoas. Temos o espírito musculoso. Contudo, a vida é essa sucessão de acidentes imprevisíveis. Torço pra que tenhamos acidentes felizes, espantos bons. O Vinícius nos avisa: “que seja infinito enquanto dure”. Tomara que esse “enquanto dure” seja um pedação do tempo.
Quaresma – Vida longa à Validuaté. Cenas dos próximos capítulos: viagens, DVD, viagens, clipes, viagens, 3° CD, clipes, viagens, viagens... fortes abraços para todos e até breve!