Há alguns dias a Diana, minha parceira aqui no Varal, fez contato com o Túlio, no meio disso tudo ela falou do blog e o convidou para uma entrevista. Convite aceito, cuidei de fazer as perguntas, que ele prontamente respondeu. Posso afirmar sem receios que foi uma das entrevistas mais agradáveis feitas até hoje no Varal Fult. O resultado vocês conferem logo abaixo.
Varal Fult: Eu Venho Vagando no Ar, seu CD de estréia, começa evocando a figura mística do caboclo através de “Pontos”, além de citar outros elementos do africanismo como o terreiro e a cidade da Jurema. Qual sua ligação pessoal com estes elementos? Por que incluí-los no álbum?
Túlio Borges: Olá para os leitores do Varal Fult. “Eu venho vagando no ar” é disco de uma estreia que veio sem pressa. Desde o início, tive vontade de que fosse um álbum como os de antigamente, aqueles que ouvi na infância e adolescência: um disco, com uma estória, início, meio e fim. A primeira faixa é composta por 5 pontos do candomblé que conheço desde menino, quando os ouvia de uma pessoa querida. As letras são leves e as melodias muito bonitas. Achei intuitivamente que faria sentido que introduzissem o ouvinte ao universo sonoro deste trabalho. Não à toa, um dos versos dá nome ao CD. Não sou religioso e, em matéria de música, não tenho qualquer compromisso que não seja musical. Pesou, além da memória afetiva, o fato de que os pontos afro-brasileiros tendem ser registrados na música brasileira com ênfase na percussão. Eu queria valorizar as linhas melódicas e os versos livres e simples.
VF: Por que cantar? O que pesou na hora de escolher a música como profissão?
TB: Escolhi não ser músico profissional e vivo como tradutor. Estudei música por muitos anos quando criança, e sempre soube que não queria sobreviver de música, mas tê-la à mão como fonte de apoio e prazer. Eu canto como quem chora, só quando dá muita vontade.
VF: Estrear aos 29 anos pode-se dizer uma ousadia, a indústria fonográfica normalmente lança nomes mais novos. Em contrapartida, a tal “estréia tardia” revela um amadurecimento que é perceptível na qualidade e equilíbrio do álbum. Ao tentar encontrar espaço nas mídias, o que se sobressai?
TB: Ousar é fazer. Quem faz o que acredita, da maneira que acha ser a melhor, pode morrer mais feliz. Não digo que o disco é perfeito, mas eu o dei terminado porque passou no meu crivo. Penso que se me agrada, é provável que vá achar vários outros que gostam. Se não agradar, sinto-me tranquilo também. Acho que quem se dispõe a ouvi-lo, observa que ele é verdadeiro. Além disso, com o cuidado e a quantidade de músicos excepcionais, escolhidos a dedo para cada música, o resultado não poderia ser menor do que ótimo. Espero que concordem comigo.
VF: Ao contrário de tantos outros artistas que voltam ao Brasil depois de uma temporada no exterior, você lançou um álbum onde a brasilidade está muito presente e próxima da sua raiz. Contudo, é um trabalho multifacetado, plural no que diz respeito a ritmos. Quais são suas influências e qual a melhor forma de lidar com elas sem perder a autenticidade?
TB: Cada um é um filtro do muito que vive no mundo. Em teoria, quando nos conhecemos e somos fieis quem somos, conseguimos ser autênticos. Quando me mudei do Brasil, fui sem planos de voltar, mas passaram-se os anos e me dava conta que o país que me pertence é o Brasil. Aqui é que conhecem a carga das palavras que uso. Eu me sentia um personagem mais superficial fora. Foi ótimo como foi e reforçou o gosto pelo que é bom no Brasil, como a música.
VF: Qual é a importância de ter participado de diversos festivais de música?
TB: Os festivais são enriquecedores pela troca com outros músicos. Formam um circuito alternativo interessante, ainda que sejam limitados pela característica competitiva da maioria deles.
VF: Vytória Rudan é sua parceira em duas composições do álbum (Paraty e Zorro), além de formarem um dueto em uma das faixas. Como nasceu essa parceria?
TB: A Vytória é amiga de outros festivais, literalmente. Uma pessoa rara e intérprete como poucas. Da amizade próxima surgiram as parcerias.
VF: Quais são suas inspirações para compor?
TB: Antes de dormir sinto necessidade de me sentir produtivo. Às vezes, perco o sono se não sinto que fiz algo importante. Naturalmente, de noite sai a maioria das canções. Aquelas feitas à noite costumam ser mais introspectivas, nostálgicas. As de manhã são brincalhonas. Falo sobre coisas da minha vida.
VF: Sabemos que ainda é cedo, mas o CD de estréia deixa-nos com desejo de “quero mais”. Há planos para um próximo trabalho?
TB: Há planos, sim; não tardará muito, espero que saia em 2011. Já tem um repertório delineado, será um disco mais parecido comigo, com letras divertidas e mais estórias. Estou ansioso desde já pra entrar em estúdio.
VF: Agradecemos pela gentileza em ceder essa entrevista e pela atenção. E também pelas músicas, claro. Alguma observação, palpite ou recado pra deixar para nós e para a galera que acessa o Varal Fult?
TB: Ouvir música hoje é bem diferente do que nos tempos de meu pai. A diversidade é enorme e a gente tem que tomar as rédeas do que escolhemos escutar. Nesse sentido, o varal tem um lugar estratégico de apresentar opções.
Abraço pra vocês!
___________________________________________Túlio Borges, por e-mail.
Para conhecer mais, baixar e ouvi-lo: Perfil do Túlio no MySpace
4 comentários:
Super gentil ^^
A entrevista com o Túlio Borges está muito boa. Obrigda por dar-nos a possibilidade de conhecer um pouco mais do cantautor genial que é o Túlio. Compoe e interpreta maravilhosamente!!
Parabéns Túlio e parabéns Diana!
Cida Duarte F.
Túlio.
Já o achei ótimo cantando...!!!
Ler a seu respeito, falando a seu respeito, tão bom quanto.
Vê se aparece, São Paulo tem muitos olhos e ouvidos pra vc!!!!!Muito mais coisas boas, pra sua carreira. até.
Hi! Sem dúvida o Tulio tem a marca dos bem sucedidos na musica: ele é coerente consigo mesmo. Eu já havia falado com ele qdo do lancamento do seu CD, e ele prometeu fazer contato comigo qdo ele vier aqui na Europa para realizar a sua primeira tourneé internacional! veja lá, hem Tulio, nao vá esquecer da seu fan-club no Principado de Liechtenstein, did u hear me? BJS Cibelle
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