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terça-feira, 9 de novembro de 2010
A crise de criatividade da TV brasileira
Eu posso afirmar sem grande culpa que fui uma criança viciada em ver TV. Era um outro tempo, onde a Internet ainda não era popular e o videogame era o grande vilão, tinha tempo controlado para o brinquedo. O refúgio então para as horas à toa era a TV.
Ouvia muita gente vangloriando programas do passado em detrimento das produções televisivas dos anos de 1990 e 2000, mas ali eu encontrava entretenimento que, ainda que sem qualidade, pelo menos era entretenimento. Hoje em dia, nem isso.
Como se não bastassem os problemas com a qualidade da programação, hoje o problema é mais grave e, temo, irreversível. Além da minha paixão pela música e o advento da Internet, talvez isso explique a irrelevância da televisão para mim e outras tantas pessoas.
Nos últimos anos acompanhamos empresas estrangeiras vendendo cada dia mais quadros para as TV’s do Brasil. Não se contentaram em vender coisa pouca assim, logo os magnatas da comunicação do Brasil compraram programas inteiros. Tivemos nosso mundo invadido por aquilo que nunca foi nosso: Big Brother Brasil, Fama, Ídolos, Super Nanny, Esquadrão da Moda, Dança dos Famosos, Qual É O Seu Talento, O Aprendiz, A Liga, CQC, O Formigueiro, Dr. Hollywood, Todos Contra Um, Topa ou Não Topa, Hipertensão e mais uma infinidade de coisas estrangeiras diretamente para nossas casas.
Essas, ao menos, são produções nacionais, mesmo que“importadas”. Há ainda as séries internacionais, que simplesmente são jogadas na nossa tela para preencher a grade de programação dos canais de TV. O SBT é o campeão nesse quesito: não produz praticamente nada, tudo ali é enlatado, indiferente à qualidade.
A Globo, sempre um referencial de excelência no que diz respeito a novelas, atualmente está com dois remakes no ar: Araguaia e Tititi. Curiosamente, a única novela inédita em produção na emissora, Passione, é a mais capenga. Outras produções como SOS Emergência, Força Tarefa e Cinquentinha não trazem nada de novo; são simplesmente adaptações daquilo que o mundo inteiro já viu e se cansou de ver.
Até mesmo aquilo que é nosso, se repete. A cada dois anos vemos Manoel Carlos produzir a mesma historinha insossa que se passa numa ilha de fantasia chamada Leblon. Todo mundo acha lindo ver Helena sofrendo, Zé Mayer comendo e um porteiro feliz. Este, o papel mais cobiçado pelos figurantes do PROJAC.
Nos programas de auditório vespertinos não é difícil ver reformas de casas, gente pobre chorando e crianças falsamente talentosas. Em todos eles, em todas as emissoras. Luciano Huck, Gugu e Celso Portiolli são iguais, a diferença é a empresa onde trabalha. Cada um, de um jeito ou de outro, insistindo no assistencialismo barato. Será que doação de casa popular dá tão audiência assim? Conseqüências do lulismo na sociedade...
Ao que me parece, diretores e roteiristas estão preguiçosos e não aparentam reação. Infelizmente. Temos uma crise de criatividade que, conseqüentemente, agrava a velha crise de qualidade. O público dá sinais que as coisas não andam boas, os magnatas dizem que a culpa é da Internet. Sentar no próprio rabo é uma beleza... enquanto isso, reinam o copismo e o marasmo. Ah, o BBB 11 vem aí!
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3 comentários:
Legal o artigo, mas Araguaia não é remake não. É ''original'', do Walter Negrão, apesar de lembrar descaramente Pantanal e tal.
O que vemos na televisão brasileira são programas sem nenhum conteúdo interessante, não por que a internet está em seu auge, mas porque a televisão em si encontra-se em declino. Não existe mais criatividade, os autores se acomodaram e não lhes interessa mais criar algo construtivo, interessante e instigante para prender a população mais critica. Artigo muito bom e que relata a nossa infeliz realidade.
Adorei o texto. De fato a televisão brasileira encontra-se num período árduo. Há a constante dúvida: Produzir algo com conteúdo e atingir uma população ínfima que não me dará audiência ou algo inútil e vazio que fará mais da metade da população assistir? Bem, quem se importa com conhecimento e cultura nesse país, certo?
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