Admito que fiquei bastante apreensiva com Adeus À Carne após ler algumas críticas de expectadores que o apontaram como hermético, denso, uma grande masturbação artística pro ego pro Melamed. As imagens da divulgação da peça já dava como pista ser bem ousado, nada convencional e simplesmente um deleite pros olhos.
Em todo o percurso até o Teatro Sesc Ginástico no Rio contorcia-me na expectativa. Com um preço totalmente acessível, bem localizado e divulgado nos grandes meios a casa estava lotada. Sentei bem próxima ao palco, podia ouvir a respiração deles, sentir tudo de forma mais acalorada. Passado os 80 minutos, levantei-me e fui embora meio desorientada, perplexa, foi perturbador.
Incrivelmente, deliciosa e totalmente mordaz de uma forma totalmente humana, errante, pulsante. Creio agora, passado alguns dias após ter visto a peça, ter sido apontada como hermética por muitos pela sua falta de convencionalismo, poucas falas e algumas cenas realmente soltas em relação ao contexto da sua própria peça. Contudo quem se propor a assistir Adeus À Carne não pode esperar nada menos impactante que o próprio Carnaval pode nos transmitir. Os conceitos como abre-alas, ala das baianas, das crianças, a velha guarda, mestre sala e porta-bandeira são apresentados de forma totalmente espantosa e usam nossas mazelas como base. Aponta diretamente os meios de comunicação televisiva de forma escrachada, zombando na cara de todos, as relações humanas e seus defeitos. Ousado em suas cenas: jogos com cordas, velas, caixão, carrinho de bebê, buquê de rosas à cora de flores. A iluminação cega nossas vistas e a sonoplastia é papel fundamental em todo o desenrolar. Recomendo.
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